domingo, 23 de setembro de 2007

O consumo de alcool no ensino secundario e superior


Na minha opinião e por vários razões ainda negligenciamos e ignoramos os malefícios e as consequências adversas, do consumo de álcool, sobretudo nos mais jovens. Todos sem excepção, escolas, universidades, comunidades e famílias deveríamos preocupar com o consumo de bebidas alcoólicas por jovens com idade inferior aos 21 anos. Os hábitos de consumo diferem sensivelmente entre homens e mulheres, mas os homens consomem mais. No entanto, a idade de início do consumo é cada vez mais prematura e assiste-se ao aumento do consumo nos jovens. È importante efectuar uma detecção precoce em jovens que se encontram mais vulneráveis a este flagelo e apoia-los nas suas decisões e desafios da vida.

Em Portugal, os acidentes de viação são a principal causa de morte em crianças, adolescentes e adultos jovens com idades até aos 25 anos de idade. Segundo um estudo, estima-se que um quarto das mortes dos europeus, principalmente do sexo masculino, com idades entre os 15 e os 29 são atribuídos às consequências adversas do consumo do álcool. A mortalidade dos jovens do sexo masculino é três vezes mais elevada do que a do sexo feminino, em grande parte devido a acidentes.

A condução sob o efeito do álcool é uma verdadeira epidemia. De uma forma geral, na UE, a média de indivíduos que conduzem com Taxa de Álcool no Sangue (TAS) acima dos limites legais ronda os 3%, enquanto esta percentagem se eleva para 25% quando se considera os condutores envolvidos em acidentes de viação fatais.

Lembro-me da altura da “queima-das-fitas” e/ou festas estudantis onde estes eventos são um pretexto para se “apanharem” grandes intoxicações alcoólicas. Fazendo o balanço deste tipo de eventos quais são os prós e os contra? Se nos debruçar-mos sobre os contra verificamos por ex. jovens intoxicados são assistidos nos hospitais, quantos acidentes de viação ocorrem nesses dias em que os condutores são estudantes e se encontram sob o efeito do álcool, os comportamento de risco associados ao sexo sem protecção onde correm o risco de se infectarem com HIV, etc., estes são somente alguns dos factores a ter em conta.

O consumo de álcool contribui mais do que qualquer outro factor de risco para a ocorrência de acidentes domésticos, laborais e de condução, violência, abusos e negligência infantil, conflitos familiares, incapacidade prematura e morte. Quantos destes factores são associados ao estudantes? Relaciona-se com o surgimento e/ou desenvolvimento de numerosos problemas ou patologias agudas e crónicas de carácter físico, psicológico e social, constituindo, por isso, um importante problema de saúde pública.

Alguns comportamentos de risco também estão associados aos consumos elevados de álcool, tais como: sexo sem protecção, gravidez não planeada e ou desejada e o risco de contagio de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV. Encontra-se também associado o baixo rendimento escolar, absentismo escolar e altos níveis de abandono escolar.

Foi desenvolvido por investigadores da Universidade Autónoma de Lisboa, um trabalho sobre o absentismo escolar em Portugal insere-se no projecto europeu Agis. Assim, o estudo conclui que a maior incidência de hábitos de consumos de substâncias - como tabaco, álcool e drogas - ocorre nos alunos absentistas dos segundo e terceiro ciclos de escolaridade, ou seja, quando em média têm entre 10 e 15 anos.

“Em Portugal, os problemas ligados ao consumo de álcool têm registado, nos últimos anos, um agravamento traduzido no aumento do consumo global. Por outro lado, numerosos estudos têm vindo a demonstrar que a iniciação no consumo de álcool ocorre geralmente na adolescência.” Comunicado do Conselho de Ministros de 18 de Outubro de 2001

O cérebro dos jovens ainda se encontra num período de desenvolvimento e maturação. A área do cérebro (neocortex) que se encontra em desenvolvimento é principalmente aquela actua nos capacidade de pensar e antecipar, comportamento consciente e voluntário, tomada de consciência e memória funcional, etc. Estudos referem que o processo de desenvolvimento só se encontra completo aos 20 anos de idade. O álcool perturba o funcionamento normal do sistema nervoso central. A sua acção é a de um anestésico. Esta depressão gradual das actividades nervosas, devida ao álcool, atinge os centros nervosos pela ordem inversa da sua evolução, quer dizer, começando pelos centros que comandam a capacidade de ajuizar, a atenção, a autocrítica, o autodomínio, a locomoção, para terminar naqueles de que depende a vida orgânica. Podemos concluir com base no bom-senso que o álcool e jovens são uma mistura poderosa e profunda (explosiva). Num primeiro estado, o indivíduo, após ter bebido alguns ml de álcool, parece ter comportamento normal, mas observado atentamente, apresenta reflexos cuja rapidez e precisão estão um pouco diminuídos. A alteração dos centros inibidores aparece num segundo estado. O indivíduo experimenta uma sensação de bem-estar, de euforia, de excitação, por vezes com uma quebra variável do controle que normalmente exerce sobre as suas palavras, sobre a sua coordenação muscular e locomotora e sobre as suas emoções. Num terceiro estado acentuam-se estes sintomas, havendo uma imprecisão dos movimentos, descontrole nas frases que diz, no andar, na audição e na visão. Num quarto estado, uma intoxicação mais profunda do sistema nervoso segue-se à embriaguez, após um período em que se agravam os seguintes sintomas: alucinação, excitação motora desordenada, perda da sensibilidade e da consciência. Sobrevem um sono com perturbações da respiração e da circulação, seguida de coma alcoólico que pode ser mortal. As quantidades de álcool que podem provocar estes estados sucessivos variam de indivíduo para indivíduo.

O consumo de bebidas alcoólicas em Portugal, assume o lugar de problema de saúde pública, uma vez que cerca de 60% da população as consome regularmente. Quantos jovens com idades compreendida entre os 15 e os 21 fazem parte deste percentagem?
Ao longo da minha experiência profissional a maioria dos casos que acompanhei experimentaram o álcool quando eram jovens e mais tarde desenvolveram dependência ao álcool e drogas.

Todos partilhamos (escolas, pais e alunos) uma grande responsabilidade na redução do consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens, com idade inferior aos 21 anos, através de implementação de algumas medidas no ambiente escolar:
Limitar o acesso as bebidas alcoólicas. Desenvolver e implementar de uma forma consistente e clara mensagens sensibilizando a redução e a eliminação dos consumos de bebidas alcoólicas nas universidades e escolas bem como nas redondezas. Implementar programas de prevenção nas próprias universidades e escolas

Estratégias a adoptar em Ambiente Escolar
Estas estratégias são técnicas que se centram e condenam o consumo de substancias entre os estudantes nas universidades, escolas e na comunidade. Quando estas estratégias são implementadas com sucesso podem proporcionar alterações no ambiente escolar e na comunidade, que por sua vez, proporcionam mudanças nas atitudes, normas sociais e no consumo de bebidas alcoólicas.

Introdução de Medidas “musculadas”
Criação de regras claras quanto à venda, posse e consumo de álcool nas escolas e universidades. Aplicar de uma forma consistente e pratica penas para aqueles que violem estas medidas sobre o consumo de álcool.
Desenvolver e aplicar restrições à industria do álcool quanto á publicidade sobre o álcool, incluindo outdoors, estações de radio, ou qualquer tipo de mensagens entre os jovens.
Limitar o tipo e a quantidade de mensagens que promovam o consumo de álcool em acontecimentos festivos, tais como “happy hour” ; “bar aberto - as meninas não pagam no bar X” etc.
Restringir o patrocínio de eventos nas universidades, que promovem o consumo de álcool, bem como eventos onde participem pessoal docente e não docente da própria escola.
Restringir todo e qualquer consumo de álcool nas universidades, educando e informando as associações de estudantes e pessoal de segurança, etc que apoiem as medidas definidas pelos estabelecimentos de ensino.

Criação de coligações entre as universidades e a comunidade que supervisione e identifique os consumos de bebidas alcoólicas entre os jovens. Estas coligações devem incluir os seguintes indivíduos ou grupos:
- Empresários e associações de comercio
- Agentes da lei
- Tribunais e juizes
- Câmaras Municipais
- Instituições ligadas à prevenção e tratamento
- Professores e directores de turma
- Associações de Pais

- Reitores e administração das escolas
- Associações de estudante e alunos

Qual a idade aconselhável para consumir álcool?Só a partir do 18 anos é que é aceitável um consumo moderado de álcool sem riscos para a saúde. No entanto, a regulamentação apenas restringe a venda e o consumo a menores de 16 anos ( Decreto-Lei n.º9/2002 de 24 de Janeiro), o que não significa que a partir desta idade os jovens estejam aptos do ponto de vista do seu desenvolvimento físico e psíquico para lidar com a toxicidade do álcool.

Segundo estatísticas da Direcção Geral de Viação, em 2004, os jovens com idades compreendidas entre os 20 e os 29 anos foram os mais afectados pelos acidentes de viação representando 25,3% dos mortos, 25% dos feridos graves e 26% dos feridos leves, e apresentando maior probabilidade de morrer num acidente de viação (18,2 mortos por 100 mil habitantes versus 9,4 nos restantes grupos etários). Na sua maioria as mortes ocorreram de sexta-feira a domingo (51,7%), sendo sábado o dia com maior número de mortes, e no período entre a meia-noite e as seis da manhã, o que corresponde aos períodos de lazer da semana.

O excesso de álcool detectado foi superior nos condutores de veículos de duas rodas, os quais apresentam um maior perigo (especialmente os motociclos), sendo mais elevado durante o período nocturno entre a meia-noite e as oito da manhã (17,6% condutores de veículos ligeiros e 19,7% condutores de veículos de duas rodas).

È urgente melhorar os níveis de vida das crianças e jovens.
Embora saibamos como melhorar os níveis de vida dos jovens e tornar mais atractivas e prosperas as gerações futuras, existe uma discrepância enorme entre aquilo que é necessário fazer e a nossa capacidade (boa vontade) de por em pratica. Significa que por vezes aquilo que dizemos, não é igual aquilo que fazemos pelos nossos jovens. Existe muita hipocrisia. Seria diferente se as crianças tivessem direito a voto?
A implementação de medidas concretas e exequíveis está muito longe dos níveis satisfatórios. Implementar melhorias na área da saúde é um esforço conjunto continuo de vários sectores da nossa sociedade. Os cuidados primários na área da saúde envolvem a educação, a industria, os media, a habitação, etc. Urge a acção nesta matéria. Assistimos impotentes ao total controle da industria do álcool na angariação feroz e desenfreada de novos consumidores, em que o publico alvo são os jovens, e á permissividade das entidades reguladoras.


http://www.idesporto.pt/CONTENT/10/..\..\DATA\DOCS\LEGISLACAO\doc193.pdf

http://www.dgv.pt/uploadedfiles/rel_anual06_v3.pdf

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