sábado, 2 de fevereiro de 2008

Publicidade "Encapotada"


Socióloga denuncia anúncios "encapotados" em manuais escolares.
Livro "Audiências Cativas" revela que desde marcas de 'fast-food', 'fast-drink' até artigos de papelaria, há de tudo um pouco nos manuais escolares

Os manuais escolares do ensino básico incluem, desde 1995, publicidade "encapotada", mostrando marcas de refrigerantes, chocolates ou de materiais escolares nos livros de estudo, denunciou a socióloga Isabel Farinha no livro "Audiências Cativas" publicado ontem.
De acordo com o estudo "Audiências Cativas - as imagens-marca no manual escolar", a prática é frequente por exemplo em manuais de matemática, onde é pedido às crianças que somem figuras cujas imagens são latas de um determinado refrigerante ou ovos de chocolate de uma marca específica.
Segundo disse Isabel Farinha à agência Lusa, as marcas de 'fast-food', 'fast-drink' e artigos de papelaria são as mais recorrentes.
Para a autora esta problemática deve ser encarada numa "perspectiva de mercado" em que as crianças estão inseridas.

"Toda esta situação tem a ver com a sociedade de consumo e o poder das crianças em desencadear vendas", explicou, lembrando que as crianças "são um mercado 3 em 1, são elas próprias um mercado consumidor, um mercado influenciador do que as rodeiam (principalmente da família) e um mercado para o futuro".
Embora não proíba expressamente esta prática, o Código da Publicidade refere ser "vedado o uso de imagens subliminares ou outros meios dissimuladores que explorem a possibilidade de transmitir publicidade sem que os destinatários se apercebam da natureza publicitária da mensagem".

Contactado pela agência Lusa o secretário-geral do Instituto Civil da Auto-disciplina da Publicidade, Miguel Morais Vaz, escusou-se a adiantar se a publicidade nos manuais escolares constitui publicidade subliminar, mas lembrou que o mesmo artigo do Código da Publicidade considera como subliminar a publicidade que, "mediante o recurso a qualquer técnica, possa provocar no destinatário percepções sensoriais de que ele não chegue a tomar consciência".
A publicidade consumida pelas crianças tornou-se, entretanto, uma das preocupações do Governo que decidiu implantar, a partir de Fevereiro, o projecto Media Smart em escolas do 1º e 2º ciclo (para crianças entre os 6 e os 11 anos).

O projecto consiste em promover a literacia em publicidade baseado no ensino extracurricular de temas e conceitos relacionados com a comunicação comercial e não comercial de marcas e entidades.
Além disso, o Governo aprovou, em Maio do ano passado, um novo regulamento de avaliação, certificação e adopção dos manuais escolares do ensino básico e secundário onde esta questão já se encontra abrangida.

Apesar de a norma só entrar em vigor no próximo ano lectivo, o documento especifica que os manuais "não devem fazer referências a marcas comerciais de serviços e produtos que possam constituir forma de publicidade". Agencia Lusa

Comentário: Gostaria de realçar a atitude da referida socióloga ao fazer este tipo de denuncias em relação à publicidade nos manuais escolares cujo publico alvo são as crianças. È um acto digno e cheio de sentido ético e moral, mas pouco usual na nossa sociedade. Aproveito para reforçar o aspecto negativo da publicidade agressiva e excessiva a bebidas alcoólicas em eventos direccionados, principalmente, a jovens adolescentes e à lei portuguesa que não permite que os jovens até aos 16 anos consumam bebidas alcoólicas. Temos o ex. Portugal é o único país da EU que defende este tipo de lei, enquanto noutros países a lei só permite que os jovens acima dos 18 ou mais consumam bebidas alcoólicas. Resta aos pais e professores ensinarem na interpretação correcta e saudável das mensagens publicitarias e consumistas, cujos produtos são extremamente acessíveis e apelativas, que visam unicamente os jovens. Os lucros da venda de produtos sobrepõem-se á vida dos nossos jovens.

Haverá algum “acordo”/interesses económicos entre o Estado Português e o industria do álcool (lobbies) que seja "ocultado" da opinião publica?

A vida dos jovens não será mais preciosa que os interesses por detrás destes “lobbies” poderosos?

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